A dias atrás peguei num livro, desses que as vezes compramos e terminam ficando arrumados na biblioteca na prateleira “Livros por ler”, e me dispus a ler relaxada e descontraída, mal sabia eu da descoberta que estava prestes a fazer e do impacto que esta leitura teria em mim…
Apôs 2 minutos de leitura estava a repetir em voz alta a seguinte frase:
A VIDA É VIDA/MORTE/VIDA…incrédula voltei a ler a frase que fazia eco nas minhas profundezas, reparei que eu só reconhecia conscientemente o conceito da dualidade e tal conceito em mim era imutável e invariável, fixo e inamovível, “ou estas viva ou estas morta” (isto circunscrito ao nível físico, literalmente falando) não havia mais nada.
Também era um conceito que me separava, me dividia e excluía uma parte de mim, porque a “morte física” sim a conseguia ver, tocar e cheirar, e mesmo que continuasse a estar fora do meu “Controle” só pelo facto de a poder constatar fisicamente era suficiente para validar a sua “real existência”, não acontecendo o mesmo com a VIDA, vida esta que podemos perceber a traves de todos os nossos sentidos em tudo o que nos rodeia, no entanto não valoramos, não validamos, não só não a reconhecemos com também temos a tendência a dar por garantida e por tanto a subestimamos.
Te soa familiar a palavra zombe? Alguma vez te sentistes como uma morta em vida, com um medo enorme a inercia a correr-te pela espinha, que não faz sentido mesmo viver assim? e o pensamento automático que vem é desistir, soltar a toalha, deixar-te ir, morrer tal vez…?
Obviamente esta visão tremendamente limitada, sobre que somos, sobre a vida, sobre tudo o que nos rodeia, sobre os conceitos com todas as suas etiquetas que compramos ao longo da nossa vida, no fundo pessoalmente acho que advém de uma tremenda incapacidade de lidarmos e gerir todos os pensamentos e sentimentos que impliquem DOR, e somos inocentes simplesmente porque ninguém nos ensinou a lidar com ela.
O impulso automático que sentimos quando vemos a alguém a sofrer é, aconchegar-lo, passar a mão na cabeça, dissemos não chores, não fiques assim, tentamos distrair a pessoa puxando para outro assunto, tranquilo/a vai passar, anda vamos comer um gelado, vamos ver esse filme que tanto gostas…etc. Fazemos isto com os nossos filhos, com as pessoas que nos são próximas, e ate com as que não o são, com o intuito de mitigar a dor e o sofrimento (o mesmo fizeram connosco).
No fundo inconscientemente o que estamos realmente a fazer é a impossibilitar que esse outro desenvolva a sua capacidade de lidar com a Dor, que apreenda a gerir essas emoções menos boas, que negue a dor como se fosse algo anti-natura, rejeitando qualquer contacto com algo natural que faz parte da vida igual que a alegria, e não só… na maioria das vezes o que realmente estamos a ver no outro é a nossa própria incapacidade de lidar com ela.
Isto impossibilita a Continuidade e a Mudança, o Movimento e Fluir, o Fortalecimento e a Renovação (por nomear alguns conceitos intrínsecos a própria vida), que são lei de vida e por ende características de uma inteligência emocional mais desenvolvida, saudável e equilibrada.
É necessário que nos permitamos a TRANSFORMAÇÃO, que a metamorfoses, aconteça; quando somos conscientes disto essa “morte” passa ser uma dádiva, é menos dolorosa, começas a fluir com a vida com uma sensação de libertação que não tem preço.
Se calhar agora possa fazer sentido para ti essa predisposição e resistência que tem a grande maioria de acudir ou pedir ajuda a um terapeuta. O nosso inconsciente sabe que se aproxima a uma “pequena morte” por tanto vão saltar todas as nossas resistências e um terapeuta que se preze como tal sabe que chegado o momento vai ter de induzir essa dor, que é um passo não só inevitável como também necessário, para dar vida a VIDA.
Atenção que não se trata de “saber conscientemente” que tudo muda e se transforma, hoje me questiono, será que verdadeiramente “sabemos” ou andamos a dissimular fazendo de conta que sabemos?
A questão ou o desafio é quando vem a consciência ( a nossa parte racional e mental) uma outra verdade que se oculta no nosso subconsciente, que ignoramos porque está em franca oposição com a nossa “percepção consciente e racional de nós, de TUDO E TODO nesta vida, o qual instaura como é evidente na maioria das vezes uma guerra interior, onde inevitavelmente uma tem de morrer para que a outra possa “sobreviver”, e indiscutivelmente assim vamos pela nossa vida tratando de Sobreviver numa montanha russa.
Por uma lado «Naaa a tu vida está parada, esta tudo igual, é o mesmo de sempre, deixa-te mais é de sonhos e aterra, isto é o que há » Ou « Bora lá, hoje vai ser diferente, pode ser que a vida hoje me surpreenda e a “sorte” esteja do meu lado, e a maré me leve a novos horizontes» Esta é a verborreia de um Ego “Bipolar” que questiona e ao mesmo tempo se dá o troco simulando as palavras do nosso Ser interior aprisionado e amordaçado.
Será o mesmo afirmar que: Eu quero Viver e para tal tenho de ficar amnésia, tenho de esquecer que posso morrer?
“Vive este dia como se fosse o último”, ” Ou a pergunta célebre Que farias se soubesses que amanha vais morrer” te soa familiar?
Onde está a coerência aqui? Ou melhor; onde esta a distorção?
Eu me esqueço, mas na verdade não esqueço, faço de conta que tenho amnésia mas no fundo continuo a lembrar que posso morrer e como tenho muito medo de morrer por aquilo que aprendi que a morte é, então nem morro nem vivo, mas SOBREVIVO, caminho “sobre” a vida mas… Separada dela, e se estou separada da vida então a questão é Onde raios é que eu estou? A final Estou viva ou Estou morta? Estou acordada ou ainda estou a sonhar?
Esquecendo por completo que SOMOS A PRÓPRIA VIDA a querer manifestar-se através de este corpo físico que escolhemos.
«O CICLO DA VIDA É VIDA/MORTE/VIDA…» Até a forma em que estas palavras estão escritas no livro sugerem CONTINUIDADE, SEGUIMENTO, INFINITUDE, INCLUSÃO, INDIVISIBILIDADE, UNIÃO. Ao contrario da minha outrora parca e limitada percepção Vida vs Morte.
Mal me atrevo a disser-vos embora a miragem seja ainda longínqua, que tenho a sensação de começar a vislumbrar ou pelo menos permitir-me ponderar nem que seja por breves instantes, tal vez segundos, que se calhar a morte não é só aquilo que eu aprendi e achava que era; “O FIM” que significava UM ATE AQUI CHEGASTES, NÃO HÁ MAIS NADA A FAZER, ACABOU… é também um passo prévio, é o impulso justo e necessário para CONTINUAR a VIVER RENASCIDO e Crescer fortalecido, e se isto é assim então a Morte, mais além daquilo que conhecemos e sabemos não existe.
A única forma de isto poder acontecer é aceitar a possibilidade de que EU, TU, NÓS SEJAMOS DEUS, com um poder realmente ilimitado, que se bem a morte física é real, também é a única que realmente pode ser entendida tal e como a percebemos, de resto só há VIDA em constante movimento e transformação, custa imaginar isto, eu sei quanto mais digerir, mas só a ideia por si é muito libertadora.
A morte seria de facto aquele intervalo onde ocorre a transformação, onde se transmuta, se transcende, se larga, se despoja, se abre mão do que já NÃO é preciso, ou melhor daquilo que te impede VIVER a tua melhor versão, livre, pleno, em paz, reconciliados com nos próprios por termos escolhido ser Deuses amnésicos para podermos brincar como humanos.
Podemos não recordar “agora”; mas esse DEUS/DEUSA está ai, em ti, em mim em todos nós e o único caminho para reencontrarmos com ele/ela, é amando-te e aceitando-te igualmente PLENO na tua HUMANIDADE limitada sim, mas o único caminho de volta.
De que não queremos abrir mão? O que é verdadeiramente o que não queremos soltar?
“Tudo é energia e a energia não morre, se TRANSMUTA, se TRANSFORMA”
Mas PARA QUE? POR ALMA DE QUEM?
Para dar um novo sentido, um novo propósito e significado a una nova co-criação a um novo ciclo, de Deus, da Vida, do Universo, da Fonte; no importa que nome lhe dez, que se manifesta como um renascimento, um novo inicio, o Advir= chegar depois como consequência de “sobreviver”…curiosa esta definição que dá o dicionário; não é?
«O CICLO DA VIDA É VIDA/MORTE/VIDA…» me fez questionar se a Morte existe unicamente tal e como a entendemos, a fim de identificarmos simplesmente com uma parte nossa “o nosso corpo” demarcando assim “À fronteira” que nos impede recordar que efectivamente somos muito, mas muito mais que um corpo, que também somos DEUSES, DEUSAS em potencia.
Ate que ponto essa mesma fronteira tenebrosa nos impede aceitarmos, entregar-nos, render-nos a todas essas pequenas mortes que ocorrem no nosso intimo, no nosso dia a dia em todas as áreas da nossa vida cujo único objectivo é libertar esse DEUS/DEUSA que há em cada um de nós por ende prisioneiro?
Prisioneiros no auto-engano, na auto-critica, no orgulho, no medo, em relações tóxicas ou pouco saudáveis onde já não cresces mas continuas a viver de joelhos, na pretensão de podermos controlar o que de facto nos transcende, trás um conceito que abraçamos porque sim em pleno automático, justificando e escondendo o nosso medo a morte “física” simplesmente porque não sabemos como justificar um medo muito maior, o medo a VIDA, o medo a VIVER e EXISTIR…«Tenho tanto medo a morrer que mal consigo viver»
Por tanto esse medo no fundo encobre somente uma férrea necessidade de manter a ilusória crença de que se nos resistimos a transformar, a renovar-nos,a renascer, a soltar ao “prisioneiro” nos manteremos a salvo da morte, acreditando assim que conseguimos parar o IMPARÁVEL …O CICLO DA VIDA, A VIDA MESMA.
Me questiono a que lhe temos mais medo, a Morte ou a Vida?
A viver como Deus/Deusa em potencia manifestando-se através da nossa humanidade Ou a continuar revoltados sobrevivendo na nossa limitada humanidade na procura externa de um PODER INFINITO que nunca deixou de estar em nós, nem mesmo quando escolhemos ficar amnésicos e desmemoriados?
Me pergunto ate onde chega a nossa arrogância? A nossa falta de humildade?
Podes tocar o MEDO? o podes ver? não pois não? e mesmo assim escolheste acreditar nele, o conheces, sabes como se sente, como vibra, como paralisa. O mesmo acontece com o seu oposto a FÉ, e não te estou a falar da Fé cega, te estou a falar da Fé consciente, daquela fé que nasce no teu auto-conhecimento e que te oferta a confiança e segurança em ti, aquela que te mantém atento, acordado, de olhos abertos, pronto para participar neste maravilhoso jogo que é a VIDA sendo um com ela mesma, não podes mudar o jogo, mas podes sim mudar a forma em que TU VAIS JOGAR.
Uma coisa é certa JAMAIS poderemos reconhecer a nossa Grandeza e muito menos sermos GRATOS por ela, por enquanto não deixarmos de lado a nossa “falsa Modéstia” disfarçada de um egoísmo servil que só nos aprisiona e condena.
A vida é tão sabia, tão generosa e tão bondosa que ate nos leva se queremos ir com ela de mãos dadas, como uma mãe, nos acompanha e se ajusta a nossa medida, ela sabe dos nossos medos, sabe que precisamos de tempo para acordarmos gradualmente, por enquanto nos nutre e nos fortalece, nos sustenta e nos aconchega, sabe que é preciso intimidade para criar um elo, uma ligação entre o interior e o exterior, criar pontes entre o passado e o futuro no presente para poder assim propiciar a nossa proximidade, cumplicidade e comunhão com ela. Só nos pede que nos juntemos a ela com tudo o que carregamos na nossa mochila e confiemos em que no momento justo e perfeito saberemos como, quando e que havemos de soltar para podermos mais fortalecidos e confiantes continuar a Jogar como Deuses nesta terra que adoptamos como nosso Lar.
Marysol Camacho .
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